sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Cusco

Cheguei hoje em Cusco. Ainda nao deu pra ver muita coisa mas a cidade é linda. Ela sobe por um vale verde. Bom de ver, depois de ter passado um tempo pela parte desértica do país. Nas ruas, uma mescla de arquitetura colonial com o que sobrou dos incas.
Amanha parto pra trilha Inca a Machu Picchu. Sao quatro dias de caminhada, pelo caminho que os Inca utilizavam pra chegar na cidade escondida. Na volta pretendo passar uns dias aqui em Cusco. Merece...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Revés

Sábado. Como partiria para Huaraz às 22;00, decidi levar minha mochila cedo pra companhia de ônibus e ficar com o dia livre, no Centro de Lima. Melhor do que deixar no albergue, já que a cidade é enorme e esse fica longe do Centro. Peguei um taxi, em frente ao albergue. Quando estávamos no meio de um cruzamento, já afastado da área nobre da cidade, o carro enguiçou. O motorista saiu pra empurrar e me pediu ajuda, naquela situaçao difícil. Empurramos e de repente ele pulou pra dentro do carro e quando fui entrar ele acelerou. Ainda consegui agarrar o aerofólio, que era vazado, como uma grande alça. Ele me arrastou por uns metros mas nao aguentei por muito tempo. Asfalto. Me levantei e corri atrás do carro por um quarteirao. Ele virou a esquina e sumiu.
Foi um dia incomum, com sequências de tristes coincidências e falta de sorte. As cidades do Perú (e Bolívia) tem dois tipo de taxi. O cadastrado e o informal. O último, normalmente, trás apenas um adesivo colado no vidro dianteiro, dizendo "TAXI". Os oficiais sao carros preparados, com o luminoso "TAXI" e tudo mais. Como eu tinha todos os meus pertences comigo, peguei o oficial. Errado. Mais tarde, na polícia, descobri que os oficiais sao somente os carros brancos e amarelos. Eu entrei num taxi vermelho (a cidade está cheia deles).
Sempre trago meu passaporte e cartao de banco (os dólares já estavam bem no fim, ainda bem) colados no corpo, naquelas bolsas para dólar. Esse foi o único dia em que saí na rua com essa bolsa dentro da mochila. "Depois eu ponho na cintura".
Quando o carro enguiçou eu tive uma grande desconfiança de que aquilo poderia ser um golpe, mas de repente isso se dissolveu um pouco. Dias antes, em Arequipa, peguei um taxi que ficou sem gasolina e os estrangeiros que dividiam o carro comigo me disseram que isso era comum por aqui. "Os taxistas andam sempre no limite". Mesmo assim quando saí pra empurrar o carro, parei pra tentar alcançar minha mochila menor (onde estavam as coisas de valor) e logo depois desisti; "Dá um crédito pro cara. Vamos tirar logo esse carro do cruzamento". Empurrei o carro, com uma pulga atrás da orelha, pronto pra pular de volta pra dentro. Nao consegui, ele foi mais rápido.
Quando se está viajando sozinho, já por um certo tempo, seus pertences pessoais sao sua única referência de casa. Quando você perde tudo, sente-se como se sua casa tivesse queimado por completo, num grande incêndio. Agora só resta sua roupa do corpo. Mas o que tenho mais sentido, é raiva. De mim e do taxista desgraçado. Minha, porque nao aprendi nada com isso, afinal já sabia como deveria ter agido pra evitar isso tudo e nao o fiz. Agora ando pelas ruas de Lima buscando o taxi que sumiu. Se eu encontrá-lo tem o risco de que fique por aqui mais alguns anos, já que vou arrastá-lo pra fora do carro e sujar o asfalto de vermelho.
Minha sorte é que tinha feito uns amigos por aqui, dias antes, que tem me dado moradia e ajuda. Até roupa já ganhei. Todos se dizem envergonhados dessa situaçao de Lima mas quem sou eu, como carioca, pra julgar a violência de outros centros urbanos. Conheci um Limenho que também perdeu tudo no Rio. Ele estava viajando, havia meses, pela América Latina, sem maiores problemas. Intercâmbio de roubadas.
Mas tô inteiro, tirando um hematoma na mao direita e um arranhao na esquerda, e sigo em frente. A viagem continua, com certeza. Agora com um novo desafio. Quanto tempo eu consigo viajar só com a roupa do corpo? Façam suas apostas!
Próxima parada, Cuzco, Machu Picchu!

PS. Alguém tem conta no Banco do Brasil? A Lia tá tentando trasferir um dinheiro da minha conta via Western Union. Parece que só se faz isso via correntista do BB. Por enquanto, vou mendigando...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Nasca


foto (roubada) da internet




Cheguei a Nasca hoje, às 5:30, vindo de Arequipa. A cidade vive em funçao das famosas Linhas de Nasca. Já na rodoviária (àquela hora) algumas pessoas me cercaram, tentando vender sobrevôos pelo local. Preferi arrumar antes um hostal pra depois ver a melhor opçao, com calma. Fechei um vôo mais uma visita ao cemitério de chauchilla, numa promoçao.



Em frente a pista de decolagens, várias diferentes companhias e suas salas. Esperei, vendo um documentário sobre as linhas. Ninguém tem a certeza de quem desenhou estas linhas gigantes e nem para quê. Maria Reiche (uma alema que estudou as linhas por décadas, e que depois de morta virou heroína de Nasca) tem a tese mais respeitada de que esses desenhos teriam sido feitos pela civilizaçao Nasca como um calendário astronômico.



Me indicaram um mono motor de quatro lugares. Piloto, eu e um casal de dinamarqueses, atrás. O aviao parecia bastante rodado. Pneu do lado direito careca. Painel gasto, com algumas adaptaçoes. Parecia que faltava alguns marcadores que foram substituídos por placas de metal pretas. Mas como nao sou nenhum expert no assunto, acreditei no piloto que disse que aquele aviao "es muy bueno". Decolamos.



As linhas ficam no meio do deserto e foram feitas simplesmente com a remoçao da terra escura e pedregosa da superfície do terreno. Sao desenhos enormes, de pássaros, macaco, pessoas e etc. Tudo desenhado pra ser visto de cima. Muito de cima. Por isso muitos acham que sao oferendas aos deuses.




Amanha tento contar como foi o cânion e Arequipa.


Mudei meus planos e parto hoje, as 4 da madrugada, pra Paracas (antes eu ia direto pra Lima, mas parece que vale a pena passar por lá antes). Vou até o trevo, onde passa a pan americana, e lá pego algum ônibus que esteja passando para Pisco. Desço numa entrada antes da cidade (já as 7:30) e de lá pego um ônibus pra Paracas, onde pego um barco pras ilhas Ballestras. Tudo isso porque os barcos só tem saído até as 10 da manha e nao existe ônibus, direto de Nasca, que chegue lá antes desse horário.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Homem fazendo roupas de la, em Taquile




Preparando a totora














1 iha de Urus





Remando barco de totora
PS. Amanha parto pra uma trilha de 3 dias pelo cânion de Colca. Na volta, conto. Abraços.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Puno

Anteontem cheguei em Puno, no Peru. A cidade fica à beira do Titicaca também. Ontem comecei um tour por algumas ilhas deste lado.Saímos cedo para Urus, umas ilhas flutuantes há 30 minutos de Puno. Sao ilhas feitas de totora, uma planta que dá que nem praga no lago. Os Urus, pra fugir dos conflitos com os colonizadores, construíram ilhas inteiras desse material. Eles usavam totora pra tudo. Comiam isso, construíam seus barcos, suas casas e suas ilhas. Elas tem uns 50 X 50 mts e sao flutuantes, ancoradas ao fundo do lago (em regioes rasas) por lanças de madeira. Hoje quem vive nessas ilhas (sao mais de 50 delas) sao descendentes desse povo, mixigenado com Aimáras.A chegada na ilha é meio circo pra turista ver, já que a economia deles depende disso. As mulheres cantando músicas típicas e expondo seu artesanato. As casas parecem meio cenográficas e existem rumores de que alguns deles vivem em Puno e vao de manha cedo pra ilha, receber os turistas. Eles juram que nasceram ali e ali vao morrer e que por vezes vao a Puno mas só pra comprar alguma coisa importante, depois voltam pra casa flutuante, em seus barcos de totora. Bom, verdade ou nao, as ilhas estao lá, sao feitas desse vegetal (assim como os barcos, casa e tudo) e seus antepassados viveram isolados ali durante muitas geraçoes. Impressionante.
Depois fomos pra Amantani, uma ilha já bem mais longe da costa (3:30hs de barco). Lá fomos recebidos pelo povo local e divididos por grupos, de 3 ou 4, pra ficar alojados na casa destas famílias. Fiquei na casa da Jení, uma simpática moradora de Amantaní que tem o sonho de falar inglês. Entre eles, só Aimara. Nao dá pra entender uma palavra. Minhas companheiras de casa foram duas alemas, que moraram no Brasil. Figuraças. Passei esses dois dias falando portugues com elas. Sotaque e jeito muito engraçado.Jeni nos deu almoço, jantar e a noite nos levou pra festa da ilha (feita pros turistas, claro!). Ela me emprestou um poncho e um gorro típico e vestiu a alema com suas roupas. Hilário! Musica típica e dança. Depois que peguei o jeito dei uns giros na Jeni.
Depois do café da manha partimos pra outra ilha, chamada Taquile, que é um pouco maior que Amantani e mais equipada. As duas ilhas nao tem luz elétrica (Taquile tem algumas casas com painel solar) e vivem basicamente da agricultura e artesanato (agora, um pouco do turismo também). Outro tempo de vida, totalmente diferente. E outras regras. Nao existe polícia, por exemplo. Só as leis básicas que vem da época dos Incas: Nao roube; nao minta; nao seja preguiçoso!
PS. Amanha tento postar algumas fotos. Tô sem a máquina aqui.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Isla del Sol











Fui de La Paz à Copacabana e lá peguei um barco para a Isla del Sol. O lago Titicaca é gigantesco. Sao 204 km por 65 km. Estima-se que sua profundidade ultrapasse os 360 mts. Durante a viagem (1:30) vê-se ilhas, costa e água sem fim pelo horizonte.


Chegando na ilha um garotinho local me perguntou se eu tinha onde ficar (eles mostram os endereços, já que na ilha nao existem ruas. Só caminhos de pedra, sem nome) e lhe dei o nome de um hostal; indicaçao de um espanhol. Ele me disse, "esse é longe". "Eu aguento", eu respondi, cheio de disposiçao. "Me segue". A ilha inteira é formada por montanhas e a caminhada começa pela escalera del Inca, um escadaria de degraus espaçados, construída pelos Incas. Comecei bem, seguindo o moleque, mas no meio da escada acabou o oxigênio. A mochila pesada e a altitude tornam essa subida um calvário. Vários turistas pálidos, tentando respirar fundo e seguir em frente. Depois de umas 10 paradas pra respirar, chegamos ao Hostal. Em cima da montanha, uma vista espetacular. Deitei na rede e fiquei.


Dia seguinte cruzei a ilha inteira (5 horas, ida e volta), de sul à norte, até um palácio Inca. Acredita-se que Manco Capac e Mama Ocllo, os primeiros Incas, surgiram na ilha e de lá foram à Cuzco, fundar o império Inca.

A ilha inteira é marcada pelas terrazas incas. Sao cortes planos na montanha, usados há séculos, como soluçao pro cultivo. Além de plantaçoes, o povo local usa esses pastos pra criaçao de animais (mulas, porcos, ovelhas e lhamas). As mulas sobem, durante todo o dia, com barris d'água pra parte mais alta da ilha, já que a fonte fica quase no nível do lago. Trabalho duro. Uma boliviana me disse, em La Paz, "um pecado se duchar na Isla del Sol".
À noite, cerveja e pizza com outros viajantes. Dois argentinos vieram pra ilha de barco a remo. Alugaram o barco em Copacabana e o dono veio junto pra ajudar. Cinco horas remando. Um deles, a cara toda vermelha de sol, disse que no meio do caminho cruzaram com barcos a motor lotados de gente que ria deles e tirava fotos. Atraçao turística.

sábado, 6 de outubro de 2007

La Paz - Coroico

Ontem fui a Coroico de bicicleta. Algumas agências de viagem, por aqui, fazem esse passeio. Uma van carregada de bicicletas busca os turistas nos hotéis e leva para La Cumbre (a 4.700 mts de altitude). De lá começa o percurso até uma cidade perto de Coroico, já a uns 1.200 mts. Sao 70 kilometros, 90% só descida, pela "estrada da morte". Tem esse nome porque é uma pista estreita, de terra e pedra, na beira de um despenhadeiro. Antes era o único caminho pra Coroico (há 3 anos construíram uma estrada nova), e centenas de pessoas morreram em acidentes de carro e ônibus. O passeio é perigoso e antes de sair temos que assinar um contrato isentando a agência de qualquer responsabilidade no caso de acidente. Alguns já aconteceram com os turistas ciclistas. Dezembro do ano passado um israelense morreu numa curva mal feita. Nos anos anteriores outros casos parecidos. Tirando isso tudo a estrada é linda. E emocionante, claro.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

La Paz - Tiwanaku.




Ontem estive em Tiwanaku, uma cidade a 2 horas de La Paz. La estao as ruinas do que foi a cidade cede dos Tiwanaku, uma cultura gigantesca que ocupou metade da Bolivia (e parte do Peru, Chile e Argentina) durante centenas de anos. Eles surgiram em torno do ano 700 a.c. e desapareceram por volta de 1.200 d.c., por causas desconhecidas.


Muita coisa que achava ser descoberta Inca, ja era dominada pelos Tiwanaku (que sumiram antes dos Incas chegarem a Bolivia). Eles desenvolveram conhecimentos avancados em astronomia, agricultura, arquitetura, e etc. Trabalhavam com diferentes tipos de pedra, dependendo do objetivo. No museu da cidade tem uma estatua de mais de 5 metros esculpida numa peca unica. Os templos sao gigantescos tambem, mas parte deles ainda estao enterrados.
Nao contratamos guia no museu entao acabamos acompanhando um grupo de mais de 50 criancas pra roubar alguma informacao do professor delas. Em um certo momento ele fez uma pergunta pras criancas, valendo um premio pra quem acertasse. Soprei a resposta no ouvido de uma menininha e empurrei ela pra frente, pra levar o premio. A resposta estava errada. Ela me olhou meio decepcionada. Depois sorriu, achando graca. Gringo burro...

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

La Paz. Plaza Murillo.


Siesta.

La Paz


Buzina é o meio de comunicacao mais usado por aqui. Carros, vans, onibus, poucos sinais e muitos pedestres. Vi varios "quase acidentes". É comum ver senhoras correndo, com criancas no colo, pra nao serem pegas por um carro que nao quer esperar a travessia. Transito caótico.

Mas La Paz é bem interessante. Uma cidade grande, com uma mistura do resto da Bolívia. A populacao é, na sua maioria, aimara (um tipo de povo indigena, predominante nessa regiao), mas tem de tudo. O centro, onde fica a cede do governo, é ocupado constantemente pela policia do exercito. Estou hospedado bem perto da praca principal e ja percebi que o clima é meio tenso. O negocio ta meio ruim pro lado do Evo. Ontem vi uma manifestacao de aposentados que reclamavam um corte de 8% em seus rendimentos. A policia cercou a praca com barricadas de ferro (que ja ficam montadads pra esses casos). E parece que amanha espera-se outras passeatas. Por todos as cidades que passei, até agora, o clima é de insatisfacao com o governo. No oriente até se entende, já que eles sao outro povo e se veem excluidos pelo governo de Evo. Mas La Paz era pra ser a sua casa. Seu povo, sua raca (acho que ele é Quechua. Indígenas tambem do altiplano). As palavras mais usadas sao "decepcao" e "traicao".

La Paz esta repleta de vendedores de rua. Fico intrigado em saber para quem se vende tanta coisa. Parece ter muito mais oferta que procura, embora as ruas estejam sempre cheias de gente. Vende-se de chocolate a fetos de lhama seco.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

terça-feira, 2 de outubro de 2007

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Uyuni - San Pedro, dia 3

Saímos do alojamento às 5.30. Uns 12 abaixo de zero. O carro enguiçou 30 minutos depois. Nos entreolhamos, esperando alguém reagir. Nao me lembro quem tomou a iniciativa mas todos saímos e empurramos o jipe, que pegou no embalo. De volta ao carro, Oscar foi abrir a garrafa d'água. Estava congelada.
Chegamos aos geisers. Cenário impressionante! Várias crateras no chao, borbulhando. E alguns jatos de vapor, fortíssimos. Eles ficam mais ativos cedo na manha. Depois acalmam. Por isso madrugamos.
Próxima parada, águas termais. Quando chegamos, outros jipes já estavam parados por lá. Havia uma sala que eles usam para o café da manha. Lá fora, vários viajantes em volta de uma piscina de cimento, com água termal (real). O frio era grande e algumas pessoas aproveitavam pra molhar os pés n'água quente. Eu tinha posto minha sunga por baixo da calça, especialmente pro banho termal. Estava há mais de 24 horas sem tomar banho. O alojamento do segundo dia nao tinha água quente, o que quer dizer "nao tinha banho". Nao iria me contentar em molhar o pé na água quente. Fui até o jipe, que estava estacionado à uns 100 metro da piscina, peguei minha toalha na mochila e deixei minha roupa por lá. Acelerei em direcao à piscina. Comecei a ouvir gritos vindo de lá. "Felipe!". "Brasileño!". "Loco!". Meus dedos do pé começaram a congelar. Insisti. As pedrinha vulcânicas furando minha sola. Nao podia desistir agora. Nao podia decepcionar meus companheiro de viagem. Ainda mais na frente dos outros viajantes. Eu já estava na metade do caminho. Voltar agora era o mesmo que seguir, só que sem o prêmio do banho termal. Já quase lá, pude ver a afliçao nos olhos daquelas pessoas encasacadas. Larguei a toalha no chao e entrei com urgência n'água. Voltei a sentir até o meu mindinho, que nao sentia havia horas! Aos poucos, meus companheiros de jipe se juntaram a mim e alguns outros turistas também. Nada como uma cobaia.
Fechamos a viagem com uma visita a lagoa verde, que vira um espelho naquela hora do dia e reflete o vulcao Licancabur inteiro em suas águas. Grandioso. Troquei de carro na fronteira com o Chile. Me despedi dos meus amigos de viagem, que voltaram pro Uyuni. Dei sorte com esse grupo. Pessoal maneiro. Segui pra San Pedro com uma sensaçao que estava saindo de casa.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

San Pedro de Atacama

San Pedro é uma cidadezinha perdida no meio do deserto. Mas é totalmente turística. As casas sao feitas de adobe, aquele tijolo de barro bruto, mas por dentro, restaurantes transados e etc. Tudo muito mais caro que a Bolívia. Primeiro porque está no meio do deserto, segunto porque é turístico e terceiro porque o Chile é mesmo mais caro que a Bolívia. Aliás, a Bolívia deve ser uns dos países mais baratos da América do Sul.
Aluguei uma bicicleta e uma prancha de Sandboard. Tinha a opcao de incluir um instrutor mais saía o dobro do preco e pensei: "nao precisa. Chego lá, vejo como os caras fazem e aprendo". Pedalei uns 20 minutos até a duna. Ela fica fora da cidade, num lugar chamado Vale de la Muerte. É um vale cercado por montanhas cor de terra. Tudo bem arenoso. Deformado pela erosao.
Larguei a bicicleta, subi a duna e nao havia ninguém no lugar. Fiquei lá até 13:30 descendo a duna sozinho. O vale vermelho, horizonte de terra e o Vulcao Licancabur ao fundo. San Pedro nao se vê de lá; fica encoberto pelo vale.
Foi fantástico, pela situacao. Sozinho numa duna, no deserto, em cima de uma tábua de sandboard. O ruim foi que nao pude pegar os macetes com os outros praticantes. Mas o cara que me alugou tinha me dito o básico. Peso pra trás e 45 graus em relacao à duna. Depois da terceira descida a gente já comeca a entender como o negocio funciona. Nao é difícil. E é meio viciante. Quase perdi a hora de entregar a prancha. Só mais uma... O que pega é que tem que subir a pé, claro. Esqui sem lifting. Cansa.
Quando estava saindo do vale cruzei com um cara que estava entrando de carro. Ele tinha alugado uma prancha também e me perguntou se era difícil. Expliquei o que sabia e disse que nao tinha mais ninguem lá. Ele disse que deve ser por causa da baixa temporada e também porque normalmente o pessoal vai no turno da tarde. De manha a galera dorme ou vai a algum tour pela regiao.
Amanha vou à Quebrada de Jerez, um cânion perto daqui. Agora vou dar uma volta pelos bares de San Pedro.
Amanha tento descrever o terceiro dia do Salar.

Uyuni - San Pedro, dia 2

A noite foi longa. O frio e a altitude (uns 3.800) me fizeram acordar à 1:00 da manha, e demorei umas duas horas pra voltar a dormir. Em Potosí (4.100 mts) já tinha sentido isso. Acordei algumas com falta de ar.
Me levantei ás 5:3o pra ver o nascer do sol. Subi numa pedra, perto do alojamento e aguentei o vento frio. Um deserto, umas nuvens vermelhas e o sol. Bonito pra caramba!
Cruzamos o deserto de Sioli. Muito rico em enxofre, as montanhas parecem coloridas a mao, de terra ao mostarda. No meio do deserto, um grupo de rochas esculpidas pela erosao do vento fortíssimo. O motorista disse que sao pedacos de um meteorito e que aquele vento já quebrou muito parabrisa de jipe.
Visitamos várias lagoas. Uma delas, Laguna Colorada, varia de cor durante o dia, até chegar ao vermelho. Sao os pigmentos das suas algas, estimuladas pelo vento. Centenas de flamingos moram lá. 3 espécies, umas delas raríssima. Imagino que eles nao tenham predador natural, já que o único outro bicho que ví por alí foram vicunhas, que nao parecem ser carnívoras.
O alojamento era congelante. Tomamos umas garrafas de vinho boliviano durante o jantar, pra esquentar. Macarrao frio com molho de tomate. Conversamos sobre viagens e tal. O grupo bem maneiro.
O frio bateu os 10 graus negativos, segundo previsao do Jaime, o motorista.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Uyuni - San Pedro, dia 1

A viagem foi genial!
O jipe 4x4 saiu do Uyuni às 11:00, com 8 pessoas. Eu, o motorista (boliviano), cinco espanhóis e um francês. Em pouco tempo já estávamos no Salar. Ele tem mais de 10.000 Km2 de extensao. A "placa gigante" tem dez metros de espessura. Aquilo ja foi parte de oceno há nem se sabe quantos anos atrás. Alguns acham que vem da formaçao dos andes. Teria separado um pedaço gigante de água (salgada) que ficou perdida dentro do continente. Morreu; evaporou; sobrou o sal. É como se fosse uma pista gigante de sal. Tem momentos que mal se vê as montanhas no horizonte. É uma imensidao branca. O motorista nasceu num povoado perdido no meio do Salar e se localiza pelas montanhas. Conhece bem aquilo. Mas pra nós, é difícil imaginar qualquer referência pra seguir. Nao existe estrada. Qualquer direçao é permitida.
Depois de muitos quilômetros avistamos uma ilha no "mar" de sal. A Isla do Pescado (tem esse nome porque, vista de cima, tem forma de peixe) é formada por rochas vulcanicas e é repleta de cactus gigantes. O cenário parece inventado. É difícil de entender. Amanha vou tentar postar alguma foto dela.
Mais uma hora de Salar e o sal se trasforma em terra. As montanhas ao fundo variam de cor e forma. Chegamos à Cuevas de Galaxia. É uma gruta toda formada por algas e coral fossilizados. Foi descoberta há 4 anos atrás e um de seus descobridores toma conta do lugar. É um sujeito de uns 60 anos, morador de um mini povoado próximo. Se dedicou anos buscando múmias na regiao, ou o que pudesse atrair turistas. Dá a impressao que eles tem um tesouro que o resto do mundo ainda nao se importa muito. Vi tumbas pre-inca sem nenhuma protecao. Ficam no meio do deserto e voce vai de pedra em pedra (nessa eles colocavam os corpos dentro de pedras vulcanicas; furadas) olhando os esqueletos. Um cara de bicicleta aparece, pega 10 Bs (R$2,00) de cada um e volta pedalando pro povoado. Aquele dinheiro vai pra escolas, saneamento básico e etc.
Chegamos fim de tarde ao alojamento, também perdido no deserto. As camas sao feitas com blocos de sal.
Continuo amanha com o dia 2 e 3...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Uyuni

O trem Oruro-Uyuni é ótimo. Tem até filme. Como a lua estava cheia deu pra ter alguma idéia da paisagem. Tem momentos que parece que o trilho cruza "o nada com montanhas ao fundo". Mas é interessante.
Uyuni vive do Salar. A cidade é bem pequena. Quando cheguei aqui, as 2:30 da madrugada, o frio estava brabo. De ter que usar luva, gorro e cachecol. Agora, o sol forte me permite passear de chinelos e bermuda. Mas nao por muito tempo...
Fechei a viagem de jipe pra amanha. Atravessa o Salar até San Pedro de Atacama, no Chile. Sao 3 dias de paisagens insólitas. Lagoas vermelhas, geisers, flamingos raros, vulcao e etc.

domingo, 23 de setembro de 2007

Oruro 2.

Oruro ganhou pontos.
Ontem fui ao show da OIL e quando cheguei no bar, ainda vazio, o tecnico de som estava tocando violao e cantando uma musica boliviana, muito bonita. Pedi bis e ele continuou tocando várias musicas latinas. Cantava bem e foi quase como um pré-show. Me arrependi de nao ter levado minha câmera , entao combinei de encontrar com ele hoje, na praca principal, pra ele tocar violao e eu gravar. Nos encontramos à uma da tarde e ele estava gambá de bêbado. Disse que ainda nao tinha voltado pra casa desde ontem; bebendo. Na hora pensei, "já era, o cara nao vai conseguir nem fazer um acorde". Realmente, a afinacao dele estava embriaga assim como o violao, mas ficamos horas na praca tocando e cantando. As pessoas passavam, olhavam um pouco e iam embora. O cara ainda me deu de presente uns dez CDs de musica latina. Benjamin. Gente boníssima!
Depois do show de ontem tomei umas cervejas com o Álvaro, baterista da OIL. Ele me disse que a situacao dos musicos aqui é tao difícil que eles tem que fazer a turnê deles de ônibus comum. Ele poe a bateria toda na mala do ônibus e vai. O som deles é meio Pearl Jam. O show foi bem maneiro, embora eu nao goste tanto desse tipo de rock.
Virna (que conheci no trem da morte e me deu uma forca em Santa Cruz) falou comigo hoje, por telefone, e me disse que viu no jornal que tá nevando no Salar do Uyuni. Mas parece que até eu chegar lá a neve já vai ter acabado. Um salar nevado deve parecer outro planeta. Comprei um gorro e um "buso" (uma calca de lâ que botamos por baixo da calca), em Potosí, antes de vir pra cá. Acho que vai ser útil.
Daqui a uma hora sai meu trêm pro Uyuni. Sao 7 horas de viagem.

sábado, 22 de setembro de 2007

Oruro.

Tô achando Oruro a maior furada da viagem. A cidade é bem diferente do que ví até agora. Nao só na arquitetura mas no "clima". Gostei de todas cidades que visitei até agora, na Bolívia, mas essa nao tá descendo bem. Todo o clima de hospitalidade se foi e agora todos me olham de cima a baixo. Mas nao com curiosidade, como antes, e sim com um certo desconforto. A cidade é suja e decadente e tudo parece meio mal acabado. Mas nao é esse o único motivo, porque me senti muito mais confortável comendo no mercado popular de Sucre, onde a higiene nao é o forte, do que num restaurante mais caro por aqui. A cidade tem aquela "vibracao" de cidade de fronteira, sem ser. Parece que a cidade está me expulsando daqui e vou seguir esse instinto. Iria pegar o trêm para Uyuni na terca feira, que ele faz a viagem de dia (deve ser uma viagem bonita), mas vou fugir daqui já amanha. Pena que o trêm de domingo faz a viagem a noite. Vou chegar em Uyuni as 2:00, mas prefiro esperar o dia amanhecer na estacao do que ter que gastar mais dois dias de hotel por aqui. Nao vale a pena.
Por que vim pra Oruro? Primeiro porque tinha realmente pensado em subir de Potosí pra conhecer essa cidade grande do que fazer o roteiro mais simples de ir direto pro Uyuni de lá. Segundo... vou resumir meu sábado passado:
Estava em Cochabamba e saí a noite pra conhecer os bares da cidade. Parei num bar com música ao vivo onde iria ter um show de uma banda de rock local, chamada "Manzana". O show foi legal e conheci um chileno, anao e corcunda, que estava vendo o show também. Seu nome é Robert. Gente boa. Ele adora rock e me indicou outro bar onde poderíamos pegar o fim do show de outra banda local. Chegamos no final do show do "Oil", uma banda com uma certa fama na Bolívia. Quando acabou o show, o baterista veio conversar com a gente. Álvaro, seu nome, é fa de música brasileira (também muito gente boa. Morou um tempo no Mato Grosso) e fechamos os bares de Cochabamba. Depois fomos, eu, Robert, ele e seus amigos pra sua casa onde ele tocou seu acervo de video clipes brasileiros (regado a Rum). Saímos de lá as 10 da manha e eu prometi que veria o proximo show de sua turnê pela Bolívia, em Ururo. Aqui estou. O show comeca daqui a uma hora e vou lá conferir.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Potosí 2

De manha fui ao Mercado Chuquimia (mercado popular onde se vende comida e serve-se almoco) onde peguei uma van para Miraflores. As vans saem lotadas e vim com duas criancas praticamente no meu colo. Pedi ao motorista que me avisasse quando estivessemos perto da Lagoa de Tarapaya. Ele se esqueceu e fui parar em Miraflores. Me pediu desculpas e pediu para o motoriasta de outra van que me levasse ate lá.
Enquanto esperava dei uma volta até os baños, onde as pessoas se banham em grandes piscinas de concreto (cobertas) de água termal. Criancas e adultos brincando felizes. Os maios das mulheres sao engracados, com franjas e etc.
Peguei a outra van e depois de alguns minutos o motorista parou no meio da estrada de terra, abriu a porta pra mim e apontou para o alto de um morro de terra e pedras. Subi uma trilha e cheguei a area plana onde estava a lagoa. Um circulo perfeito, de águas termais. Haviam tres pessoas lá. O casal que toma conta da área e um turista brasileiro (primeiro que vi ate agora, na Bolivia) que esta rodando a America Latina de bicicleta. Fiquei um bom tempo dentro d'agua, vendo as montanhas em volta, onde alguns Incas foram mortos pelos espanhois. Dizem que o fundo da lagoa (que nunca foi alcancado por ninguem, segunda as lendas locais. Juram que ela nao tem fundo) esta cheio de tesouro Inca. Eles teriam jogado tudo que tinham de valor na lagoa. "Se nao podemos ter, os espanhois tambem nao o terao".
Na volta a Potosí, sentei na van ao lado de uma mulher com seu filho bebê. Ela se chama Maria e me disse que seu pai era mineiro e morreu aos 47 anos depois de 4 anos de doencas de pulmao. Ela foi a La Paz diversas vezes durante esse periodo pra conseguir ajuda do governo. Contou que depois de chorar algumas vezes na frente de muitos que lá trabalhavam, conseguiu um apoio financeiro que chegou tarde demais. Perdeu seu pai pra mina e me disse que aquele dinheiro nao lhe vale de nada. Nunca mais vai ver seu pai novamente.
De volta a Potosí, almocei no Mercado Chuquimia e fui a Casa de La Moneda. Potosí foi tao rica que construiram, no seculo XVIII, uma casa da moeda. O museu é enorme e a visita foi mais engracadas porque haviam cinco cholas bolivianas (camponesas idososas, pobres, que se ventem com vestes típicas) que se sentavam nas cadeiras que já foram de nobres e achavam tudo lindo. Fiquei curioso pra saber se elas pagaram a entrada. Mas acho que tem um lance de entrada liberada para algumas pessoas locais.
Passei agora ha pouco no Mercado Central pra comprar algumas coisas de la (nao tenho acentos aqui mas ponham um til no "a") , pro frio. Aqui já é bastante frio e soube que em Ururo (meu proximo destino) é ainda mais.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Potosí

Ontem cheguei a noite em Potosi e achei um albergue chamado "Koala". Para um quarto compartilhado, com cinco camas, eles pedem 30bs por pessoa (uns R$8,00). Não é muito comum albergues na Bolívia e esse até que está bem. Limpo e com café da manha incluído.
Saí hoje, as 9:00, para uma visita às minas de Cerro Rico, uma serra bem em frente à cidade. Potosi teve umas das maiores minas de prata do mundo, que hoje continuam funcionando, mas na exploração de estanho e outros metais menos preciosos. Os espanhóis "limparam" a região por 200 anos. Dizem que as toneladas de prata de Potosi financiaram o enriquecimento das principais cidades europeias da época.
As condicoes de trabalho dos mineiros, hoje em dia, não difere muito das do século XVI. É impressionante. São quilometros de corredores subterrâneos. Em alguns momentos tem que se engatinhar pra passar. Os carrinhos vêm carregados (toneladas) e são empurrados na mao, por uns quatro mineiros. Parece que antigamente havia mulas; hoje não. Quanto mais a gente vai descendo mais o ar vai ficando rarefeito e intoxicado de arsênico e outros gases; além de poeira; terra. Potosi está a mais de 4.000 mts de altura, então respirar fora das minas já é meio pesado. A expectativa de vida deles (mineiros) é de 40, 45 anos. O pulmão não aguenta. Pra suportar a pedreira, eles passam o dia mascando folha de coca. Não saem pra almoçar. Só comem de manha, e na saída. O resto do dia é coca, que ajuda na oxigenação e dá energia. Fiquei lá dentro umas três horas, também mascando coca.
Já tinham me dito que haviam crianças trabalhando nessas minas e enquanto estávamos la passou um garoto de uns 14 anos empurrando um carrinho.O interessante da visita é que eles não mudam nada em função da nossa presença lá. É uma mina em funcionamento, com péssimas condicoes de trabalho e que deixam um cara entrar levando um grupo de turistas. Provavelmente esse guia deve dar um dinheiro pra eles. E nós, levamos folhas de coca e bebidas, como presente.
Me disseram que os três carros mais caros da Bolívia estão aqui, em Potosi. São dos donos dessas minas.