sexta-feira, 28 de setembro de 2007

San Pedro de Atacama

San Pedro é uma cidadezinha perdida no meio do deserto. Mas é totalmente turística. As casas sao feitas de adobe, aquele tijolo de barro bruto, mas por dentro, restaurantes transados e etc. Tudo muito mais caro que a Bolívia. Primeiro porque está no meio do deserto, segunto porque é turístico e terceiro porque o Chile é mesmo mais caro que a Bolívia. Aliás, a Bolívia deve ser uns dos países mais baratos da América do Sul.
Aluguei uma bicicleta e uma prancha de Sandboard. Tinha a opcao de incluir um instrutor mais saía o dobro do preco e pensei: "nao precisa. Chego lá, vejo como os caras fazem e aprendo". Pedalei uns 20 minutos até a duna. Ela fica fora da cidade, num lugar chamado Vale de la Muerte. É um vale cercado por montanhas cor de terra. Tudo bem arenoso. Deformado pela erosao.
Larguei a bicicleta, subi a duna e nao havia ninguém no lugar. Fiquei lá até 13:30 descendo a duna sozinho. O vale vermelho, horizonte de terra e o Vulcao Licancabur ao fundo. San Pedro nao se vê de lá; fica encoberto pelo vale.
Foi fantástico, pela situacao. Sozinho numa duna, no deserto, em cima de uma tábua de sandboard. O ruim foi que nao pude pegar os macetes com os outros praticantes. Mas o cara que me alugou tinha me dito o básico. Peso pra trás e 45 graus em relacao à duna. Depois da terceira descida a gente já comeca a entender como o negocio funciona. Nao é difícil. E é meio viciante. Quase perdi a hora de entregar a prancha. Só mais uma... O que pega é que tem que subir a pé, claro. Esqui sem lifting. Cansa.
Quando estava saindo do vale cruzei com um cara que estava entrando de carro. Ele tinha alugado uma prancha também e me perguntou se era difícil. Expliquei o que sabia e disse que nao tinha mais ninguem lá. Ele disse que deve ser por causa da baixa temporada e também porque normalmente o pessoal vai no turno da tarde. De manha a galera dorme ou vai a algum tour pela regiao.
Amanha vou à Quebrada de Jerez, um cânion perto daqui. Agora vou dar uma volta pelos bares de San Pedro.
Amanha tento descrever o terceiro dia do Salar.

Uyuni - San Pedro, dia 2

A noite foi longa. O frio e a altitude (uns 3.800) me fizeram acordar à 1:00 da manha, e demorei umas duas horas pra voltar a dormir. Em Potosí (4.100 mts) já tinha sentido isso. Acordei algumas com falta de ar.
Me levantei ás 5:3o pra ver o nascer do sol. Subi numa pedra, perto do alojamento e aguentei o vento frio. Um deserto, umas nuvens vermelhas e o sol. Bonito pra caramba!
Cruzamos o deserto de Sioli. Muito rico em enxofre, as montanhas parecem coloridas a mao, de terra ao mostarda. No meio do deserto, um grupo de rochas esculpidas pela erosao do vento fortíssimo. O motorista disse que sao pedacos de um meteorito e que aquele vento já quebrou muito parabrisa de jipe.
Visitamos várias lagoas. Uma delas, Laguna Colorada, varia de cor durante o dia, até chegar ao vermelho. Sao os pigmentos das suas algas, estimuladas pelo vento. Centenas de flamingos moram lá. 3 espécies, umas delas raríssima. Imagino que eles nao tenham predador natural, já que o único outro bicho que ví por alí foram vicunhas, que nao parecem ser carnívoras.
O alojamento era congelante. Tomamos umas garrafas de vinho boliviano durante o jantar, pra esquentar. Macarrao frio com molho de tomate. Conversamos sobre viagens e tal. O grupo bem maneiro.
O frio bateu os 10 graus negativos, segundo previsao do Jaime, o motorista.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Uyuni - San Pedro, dia 1

A viagem foi genial!
O jipe 4x4 saiu do Uyuni às 11:00, com 8 pessoas. Eu, o motorista (boliviano), cinco espanhóis e um francês. Em pouco tempo já estávamos no Salar. Ele tem mais de 10.000 Km2 de extensao. A "placa gigante" tem dez metros de espessura. Aquilo ja foi parte de oceno há nem se sabe quantos anos atrás. Alguns acham que vem da formaçao dos andes. Teria separado um pedaço gigante de água (salgada) que ficou perdida dentro do continente. Morreu; evaporou; sobrou o sal. É como se fosse uma pista gigante de sal. Tem momentos que mal se vê as montanhas no horizonte. É uma imensidao branca. O motorista nasceu num povoado perdido no meio do Salar e se localiza pelas montanhas. Conhece bem aquilo. Mas pra nós, é difícil imaginar qualquer referência pra seguir. Nao existe estrada. Qualquer direçao é permitida.
Depois de muitos quilômetros avistamos uma ilha no "mar" de sal. A Isla do Pescado (tem esse nome porque, vista de cima, tem forma de peixe) é formada por rochas vulcanicas e é repleta de cactus gigantes. O cenário parece inventado. É difícil de entender. Amanha vou tentar postar alguma foto dela.
Mais uma hora de Salar e o sal se trasforma em terra. As montanhas ao fundo variam de cor e forma. Chegamos à Cuevas de Galaxia. É uma gruta toda formada por algas e coral fossilizados. Foi descoberta há 4 anos atrás e um de seus descobridores toma conta do lugar. É um sujeito de uns 60 anos, morador de um mini povoado próximo. Se dedicou anos buscando múmias na regiao, ou o que pudesse atrair turistas. Dá a impressao que eles tem um tesouro que o resto do mundo ainda nao se importa muito. Vi tumbas pre-inca sem nenhuma protecao. Ficam no meio do deserto e voce vai de pedra em pedra (nessa eles colocavam os corpos dentro de pedras vulcanicas; furadas) olhando os esqueletos. Um cara de bicicleta aparece, pega 10 Bs (R$2,00) de cada um e volta pedalando pro povoado. Aquele dinheiro vai pra escolas, saneamento básico e etc.
Chegamos fim de tarde ao alojamento, também perdido no deserto. As camas sao feitas com blocos de sal.
Continuo amanha com o dia 2 e 3...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Uyuni

O trem Oruro-Uyuni é ótimo. Tem até filme. Como a lua estava cheia deu pra ter alguma idéia da paisagem. Tem momentos que parece que o trilho cruza "o nada com montanhas ao fundo". Mas é interessante.
Uyuni vive do Salar. A cidade é bem pequena. Quando cheguei aqui, as 2:30 da madrugada, o frio estava brabo. De ter que usar luva, gorro e cachecol. Agora, o sol forte me permite passear de chinelos e bermuda. Mas nao por muito tempo...
Fechei a viagem de jipe pra amanha. Atravessa o Salar até San Pedro de Atacama, no Chile. Sao 3 dias de paisagens insólitas. Lagoas vermelhas, geisers, flamingos raros, vulcao e etc.

domingo, 23 de setembro de 2007

Oruro 2.

Oruro ganhou pontos.
Ontem fui ao show da OIL e quando cheguei no bar, ainda vazio, o tecnico de som estava tocando violao e cantando uma musica boliviana, muito bonita. Pedi bis e ele continuou tocando várias musicas latinas. Cantava bem e foi quase como um pré-show. Me arrependi de nao ter levado minha câmera , entao combinei de encontrar com ele hoje, na praca principal, pra ele tocar violao e eu gravar. Nos encontramos à uma da tarde e ele estava gambá de bêbado. Disse que ainda nao tinha voltado pra casa desde ontem; bebendo. Na hora pensei, "já era, o cara nao vai conseguir nem fazer um acorde". Realmente, a afinacao dele estava embriaga assim como o violao, mas ficamos horas na praca tocando e cantando. As pessoas passavam, olhavam um pouco e iam embora. O cara ainda me deu de presente uns dez CDs de musica latina. Benjamin. Gente boníssima!
Depois do show de ontem tomei umas cervejas com o Álvaro, baterista da OIL. Ele me disse que a situacao dos musicos aqui é tao difícil que eles tem que fazer a turnê deles de ônibus comum. Ele poe a bateria toda na mala do ônibus e vai. O som deles é meio Pearl Jam. O show foi bem maneiro, embora eu nao goste tanto desse tipo de rock.
Virna (que conheci no trem da morte e me deu uma forca em Santa Cruz) falou comigo hoje, por telefone, e me disse que viu no jornal que tá nevando no Salar do Uyuni. Mas parece que até eu chegar lá a neve já vai ter acabado. Um salar nevado deve parecer outro planeta. Comprei um gorro e um "buso" (uma calca de lâ que botamos por baixo da calca), em Potosí, antes de vir pra cá. Acho que vai ser útil.
Daqui a uma hora sai meu trêm pro Uyuni. Sao 7 horas de viagem.

sábado, 22 de setembro de 2007

Oruro.

Tô achando Oruro a maior furada da viagem. A cidade é bem diferente do que ví até agora. Nao só na arquitetura mas no "clima". Gostei de todas cidades que visitei até agora, na Bolívia, mas essa nao tá descendo bem. Todo o clima de hospitalidade se foi e agora todos me olham de cima a baixo. Mas nao com curiosidade, como antes, e sim com um certo desconforto. A cidade é suja e decadente e tudo parece meio mal acabado. Mas nao é esse o único motivo, porque me senti muito mais confortável comendo no mercado popular de Sucre, onde a higiene nao é o forte, do que num restaurante mais caro por aqui. A cidade tem aquela "vibracao" de cidade de fronteira, sem ser. Parece que a cidade está me expulsando daqui e vou seguir esse instinto. Iria pegar o trêm para Uyuni na terca feira, que ele faz a viagem de dia (deve ser uma viagem bonita), mas vou fugir daqui já amanha. Pena que o trêm de domingo faz a viagem a noite. Vou chegar em Uyuni as 2:00, mas prefiro esperar o dia amanhecer na estacao do que ter que gastar mais dois dias de hotel por aqui. Nao vale a pena.
Por que vim pra Oruro? Primeiro porque tinha realmente pensado em subir de Potosí pra conhecer essa cidade grande do que fazer o roteiro mais simples de ir direto pro Uyuni de lá. Segundo... vou resumir meu sábado passado:
Estava em Cochabamba e saí a noite pra conhecer os bares da cidade. Parei num bar com música ao vivo onde iria ter um show de uma banda de rock local, chamada "Manzana". O show foi legal e conheci um chileno, anao e corcunda, que estava vendo o show também. Seu nome é Robert. Gente boa. Ele adora rock e me indicou outro bar onde poderíamos pegar o fim do show de outra banda local. Chegamos no final do show do "Oil", uma banda com uma certa fama na Bolívia. Quando acabou o show, o baterista veio conversar com a gente. Álvaro, seu nome, é fa de música brasileira (também muito gente boa. Morou um tempo no Mato Grosso) e fechamos os bares de Cochabamba. Depois fomos, eu, Robert, ele e seus amigos pra sua casa onde ele tocou seu acervo de video clipes brasileiros (regado a Rum). Saímos de lá as 10 da manha e eu prometi que veria o proximo show de sua turnê pela Bolívia, em Ururo. Aqui estou. O show comeca daqui a uma hora e vou lá conferir.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Potosí 2

De manha fui ao Mercado Chuquimia (mercado popular onde se vende comida e serve-se almoco) onde peguei uma van para Miraflores. As vans saem lotadas e vim com duas criancas praticamente no meu colo. Pedi ao motorista que me avisasse quando estivessemos perto da Lagoa de Tarapaya. Ele se esqueceu e fui parar em Miraflores. Me pediu desculpas e pediu para o motoriasta de outra van que me levasse ate lá.
Enquanto esperava dei uma volta até os baños, onde as pessoas se banham em grandes piscinas de concreto (cobertas) de água termal. Criancas e adultos brincando felizes. Os maios das mulheres sao engracados, com franjas e etc.
Peguei a outra van e depois de alguns minutos o motorista parou no meio da estrada de terra, abriu a porta pra mim e apontou para o alto de um morro de terra e pedras. Subi uma trilha e cheguei a area plana onde estava a lagoa. Um circulo perfeito, de águas termais. Haviam tres pessoas lá. O casal que toma conta da área e um turista brasileiro (primeiro que vi ate agora, na Bolivia) que esta rodando a America Latina de bicicleta. Fiquei um bom tempo dentro d'agua, vendo as montanhas em volta, onde alguns Incas foram mortos pelos espanhois. Dizem que o fundo da lagoa (que nunca foi alcancado por ninguem, segunda as lendas locais. Juram que ela nao tem fundo) esta cheio de tesouro Inca. Eles teriam jogado tudo que tinham de valor na lagoa. "Se nao podemos ter, os espanhois tambem nao o terao".
Na volta a Potosí, sentei na van ao lado de uma mulher com seu filho bebê. Ela se chama Maria e me disse que seu pai era mineiro e morreu aos 47 anos depois de 4 anos de doencas de pulmao. Ela foi a La Paz diversas vezes durante esse periodo pra conseguir ajuda do governo. Contou que depois de chorar algumas vezes na frente de muitos que lá trabalhavam, conseguiu um apoio financeiro que chegou tarde demais. Perdeu seu pai pra mina e me disse que aquele dinheiro nao lhe vale de nada. Nunca mais vai ver seu pai novamente.
De volta a Potosí, almocei no Mercado Chuquimia e fui a Casa de La Moneda. Potosí foi tao rica que construiram, no seculo XVIII, uma casa da moeda. O museu é enorme e a visita foi mais engracadas porque haviam cinco cholas bolivianas (camponesas idososas, pobres, que se ventem com vestes típicas) que se sentavam nas cadeiras que já foram de nobres e achavam tudo lindo. Fiquei curioso pra saber se elas pagaram a entrada. Mas acho que tem um lance de entrada liberada para algumas pessoas locais.
Passei agora ha pouco no Mercado Central pra comprar algumas coisas de la (nao tenho acentos aqui mas ponham um til no "a") , pro frio. Aqui já é bastante frio e soube que em Ururo (meu proximo destino) é ainda mais.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Potosí

Ontem cheguei a noite em Potosi e achei um albergue chamado "Koala". Para um quarto compartilhado, com cinco camas, eles pedem 30bs por pessoa (uns R$8,00). Não é muito comum albergues na Bolívia e esse até que está bem. Limpo e com café da manha incluído.
Saí hoje, as 9:00, para uma visita às minas de Cerro Rico, uma serra bem em frente à cidade. Potosi teve umas das maiores minas de prata do mundo, que hoje continuam funcionando, mas na exploração de estanho e outros metais menos preciosos. Os espanhóis "limparam" a região por 200 anos. Dizem que as toneladas de prata de Potosi financiaram o enriquecimento das principais cidades europeias da época.
As condicoes de trabalho dos mineiros, hoje em dia, não difere muito das do século XVI. É impressionante. São quilometros de corredores subterrâneos. Em alguns momentos tem que se engatinhar pra passar. Os carrinhos vêm carregados (toneladas) e são empurrados na mao, por uns quatro mineiros. Parece que antigamente havia mulas; hoje não. Quanto mais a gente vai descendo mais o ar vai ficando rarefeito e intoxicado de arsênico e outros gases; além de poeira; terra. Potosi está a mais de 4.000 mts de altura, então respirar fora das minas já é meio pesado. A expectativa de vida deles (mineiros) é de 40, 45 anos. O pulmão não aguenta. Pra suportar a pedreira, eles passam o dia mascando folha de coca. Não saem pra almoçar. Só comem de manha, e na saída. O resto do dia é coca, que ajuda na oxigenação e dá energia. Fiquei lá dentro umas três horas, também mascando coca.
Já tinham me dito que haviam crianças trabalhando nessas minas e enquanto estávamos la passou um garoto de uns 14 anos empurrando um carrinho.O interessante da visita é que eles não mudam nada em função da nossa presença lá. É uma mina em funcionamento, com péssimas condicoes de trabalho e que deixam um cara entrar levando um grupo de turistas. Provavelmente esse guia deve dar um dinheiro pra eles. E nós, levamos folhas de coca e bebidas, como presente.
Me disseram que os três carros mais caros da Bolívia estão aqui, em Potosi. São dos donos dessas minas.