terça-feira, 23 de outubro de 2007

Revés

Sábado. Como partiria para Huaraz às 22;00, decidi levar minha mochila cedo pra companhia de ônibus e ficar com o dia livre, no Centro de Lima. Melhor do que deixar no albergue, já que a cidade é enorme e esse fica longe do Centro. Peguei um taxi, em frente ao albergue. Quando estávamos no meio de um cruzamento, já afastado da área nobre da cidade, o carro enguiçou. O motorista saiu pra empurrar e me pediu ajuda, naquela situaçao difícil. Empurramos e de repente ele pulou pra dentro do carro e quando fui entrar ele acelerou. Ainda consegui agarrar o aerofólio, que era vazado, como uma grande alça. Ele me arrastou por uns metros mas nao aguentei por muito tempo. Asfalto. Me levantei e corri atrás do carro por um quarteirao. Ele virou a esquina e sumiu.
Foi um dia incomum, com sequências de tristes coincidências e falta de sorte. As cidades do Perú (e Bolívia) tem dois tipo de taxi. O cadastrado e o informal. O último, normalmente, trás apenas um adesivo colado no vidro dianteiro, dizendo "TAXI". Os oficiais sao carros preparados, com o luminoso "TAXI" e tudo mais. Como eu tinha todos os meus pertences comigo, peguei o oficial. Errado. Mais tarde, na polícia, descobri que os oficiais sao somente os carros brancos e amarelos. Eu entrei num taxi vermelho (a cidade está cheia deles).
Sempre trago meu passaporte e cartao de banco (os dólares já estavam bem no fim, ainda bem) colados no corpo, naquelas bolsas para dólar. Esse foi o único dia em que saí na rua com essa bolsa dentro da mochila. "Depois eu ponho na cintura".
Quando o carro enguiçou eu tive uma grande desconfiança de que aquilo poderia ser um golpe, mas de repente isso se dissolveu um pouco. Dias antes, em Arequipa, peguei um taxi que ficou sem gasolina e os estrangeiros que dividiam o carro comigo me disseram que isso era comum por aqui. "Os taxistas andam sempre no limite". Mesmo assim quando saí pra empurrar o carro, parei pra tentar alcançar minha mochila menor (onde estavam as coisas de valor) e logo depois desisti; "Dá um crédito pro cara. Vamos tirar logo esse carro do cruzamento". Empurrei o carro, com uma pulga atrás da orelha, pronto pra pular de volta pra dentro. Nao consegui, ele foi mais rápido.
Quando se está viajando sozinho, já por um certo tempo, seus pertences pessoais sao sua única referência de casa. Quando você perde tudo, sente-se como se sua casa tivesse queimado por completo, num grande incêndio. Agora só resta sua roupa do corpo. Mas o que tenho mais sentido, é raiva. De mim e do taxista desgraçado. Minha, porque nao aprendi nada com isso, afinal já sabia como deveria ter agido pra evitar isso tudo e nao o fiz. Agora ando pelas ruas de Lima buscando o taxi que sumiu. Se eu encontrá-lo tem o risco de que fique por aqui mais alguns anos, já que vou arrastá-lo pra fora do carro e sujar o asfalto de vermelho.
Minha sorte é que tinha feito uns amigos por aqui, dias antes, que tem me dado moradia e ajuda. Até roupa já ganhei. Todos se dizem envergonhados dessa situaçao de Lima mas quem sou eu, como carioca, pra julgar a violência de outros centros urbanos. Conheci um Limenho que também perdeu tudo no Rio. Ele estava viajando, havia meses, pela América Latina, sem maiores problemas. Intercâmbio de roubadas.
Mas tô inteiro, tirando um hematoma na mao direita e um arranhao na esquerda, e sigo em frente. A viagem continua, com certeza. Agora com um novo desafio. Quanto tempo eu consigo viajar só com a roupa do corpo? Façam suas apostas!
Próxima parada, Cuzco, Machu Picchu!

PS. Alguém tem conta no Banco do Brasil? A Lia tá tentando trasferir um dinheiro da minha conta via Western Union. Parece que só se faz isso via correntista do BB. Por enquanto, vou mendigando...

8 comentários:

Ana Paula Cunha disse...

Oi Chs,

nossa que coisa horrível...
Vou tentar ajudar a sua irmã com a história da grana.

Olha, se cuida mesmo.
Volta logo! Estamos todos te esperando aqui.

Um beijo enorme

Ana Paula Cunha disse...

Essa Ana sou eu Mari.

Fernando disse...

Po, Fil se cuida cara! Vamos ver daqui o q a gente pode fazer!

abs

Unknown disse...

Essa foi terrivel, Phil. Tambem vou ver quem aqui tem conta no BB. Manda mais noticias.

Julia Sabugosa disse...

Fil!

Tudo certo. Grana já está a caminho.

Agora chega! Já tá bom de histórias incríveis. Deixa que esse fdp terá o que merece. Não vá querer ficar aí pra sempre. Se ele te conhecesse um pouco nunca teria feito isso, logo com você. Tão fofo!

Saudades demais. Poxa...

Te amo, meu gêmeo predileto.

Unknown disse...

caralho, fil....
o problema nao é a grana...mas as cameras, ne? Fitas...
mas relaxa e segue viagem.
Foda é o "perdeu, playboy".

Luluzinha disse...

Ai, ai...
Posso ser sua biógrafa???
ainda bem que você tá melhor.
qualquer coisa, procura minha prima aí, mesmo.
Um beijo

Cecilia Urano disse...

fil,
que horror! eu gringa aqui nos EUA nao estou mais acustumada com essas coisas!
se cuida!
bjs
Ceny